16 de março de 2009

Textos

Palestra do Guia Pathwork n. 180
Palestra Anteriormente Editada
O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DO RELACIONAMENTO
Continuação



QUEM É RESPONSÁVEL PELO RELACIONAMENTO ?

Quando existe um envolvimento entre pessoas de diferentes níveis de desenvolvimento espiritual é sempre a pessoa mais desenvolvida que é responsável pelo relacionamento. Especificamente, é da responsabilidade dessa pessoa buscar as profundidades da interação que criam fricção e desarmonia entre as partes. A pessoa menos desenvolvida não é tão capaz de tal busca, uma vez que ainda se encontra em um estado em que culpa o outro e depende de que o outro haja "certo" para evitar o desprazer ou a frustração. Além do mais a pessoa menos desenvolvida é sempre enredada pelo erro fundamental da dualidade. Da sua perspectiva qualquer fricção é vista em termos de "só um de nós está certo." Um problema no outro parece isentar automaticamente essa pessoa, embora o seu próprio envolvimento negativo possa ser infinitamente mais ponderável que o da outra pessoa.

A pessoa mais desenvolvida espiritualmente é capaz de uma percepção não dualista, realística. Essa pessoa pode ver que um dos dois pode ter um profundo problema, mas que isso não elimina a importância do problema possivelmente muito menor do outro. Aquele mais desenvolvido estará sempre disposto e pronto a procurar o seu próprio envolvimento sempre que é afetado de forma negativa, não importando quão evidentemente o outro esteja em erro.
Uma pessoa em estado de imaturidade e imperfeição espiritual e emocional sempre colocará a maior parte da culpa no outro. Tudo isso se aplica a qualquer tipo de relacionamento: casais, pais e filhos, amizades ou contatos de negócios.

A tendência a se tornar emocionalmente dependente dos outros - cuja superação é um aspecto dos mais importantes do processo de crescimento - deriva em grande parte do desejo de absolver a si mesmo de culpa ou subtrair-se a dificuldades ao estabelecer ou manter um relacionamento. Parece muito mais fácil transferir a maior porção desse fardo a outros.
Mas que preço tem que ser pago! Tal comportamento torna-se realmente indefeso e produz o isolamento ou dor e fricção intermináveis com os outros. Apenas quando se começa verdadeiramente a assumir a auto-responsabilidade, olhando para o próprio problema no relacionamento e mostrando uma vontade de mudança é que a liberdade é estabelecida e os relacionamentos se tornam frutíferos e felizes.

Se a pessoa mais desenvolvida recusa-se a assumir o dever espiritual apropriado de tomar a responsabilidade pelo relacionamento e procurar pelo centro da dissensão no interior, ela nunca entenderá realmente a interação mútua, como um problema afeta o outro. O relacionamento então certamente sofrerá deterioração, deixando ambos os parceiros confusos e menos aptos a
lidar com self e com os outros. Por outro lado, se a pessoa espiritualmente desenvolvida aceita tal responsabilidade, ela também ajudará a outra pessoa de uma maneira sutil. Se ela pode resistir à tentação de atacar constantemente os pontos desfavoráveis óbvios do outro e olhar para dentro,ela aumentará consideravelmente o seu próprio desenvolvimento e espalhará paz e alegria. O veneno da fricção será brevemente eliminado. Também será possível encontrar outros parceiros para um processo de crescimento realmente mútuo.
Quando dois iguais se relacionam, ambos carregam a total responsabilidade pelo relacionamento. Essa é verdadeiramente uma bela aventura, um estado de mutualidade profundamente satisfatório. A mais leve falha no humor será reconhecida pelo seu significado interior e assim o processo de crescimento é mantido. Ambos irão reconhecer a sua co-criação dessa falha momentânea, quer seja ela uma verdadeira fricção ou um amortecimento passageiro de sentimentos. A realidade interna da interação torna-se-á cada vez mais significativa. Isso evitará , em grande parte, lesões ao relacionamento.
Quero enfatizar aqui que quando eu falo em ser responsável pela pessoa menos desenvolvida, eu não quero dizer que outro ser humano pode de alguma forma carregar o fardo das reais dificuldades de outros. Isso não pode nunca ocorrer. O que quero dizer é que as dificuldades de interação em um relacionamento normalmente não são exploradas em profundidade pelo
indivíduo cujo desenvolvimento espiritual é mais primitivo. Ele considerará os outros responsáveis por sua infelicidade e desarmonia em uma dada interação e não é capaz, ou não tem vontade, de enxergar a questão como um todo. Assim essa pessoa não está em posição de eliminar a desarmonia. Apenas aqueles que assumem a responsabilidade de descobrir a perturbação interna e o efeito mútuo podem fazê-lo. Portanto, a pessoa espiritualmente mais primitiva sempre depende da espiritualmente mais evoluída.
Um relacionamento entre indivíduos no qual a destrutividade do menos desenvolvido torna impossíveis o crescimento, a harmonia e os bons sentimentos, ou no qual o contato é esmagadoramente negativo, deve ser rompido. Via de regra, a pessoa mais desenvolvida deve assumir a iniciativa. Se ela não o faz, isso indica alguma fraqueza e medo não reconhecidos que precisam ser encarados. Se um relacionamento é dissolvido por essa razão, isto é, por ser mais destrutivo e doloroso que construtivo e harmonioso, isso deve ser feito quando os problemas interiores e interações mútuas sejam plenamente reconhecidos por aquele que toma a iniciativa de dissolver um velho laço. Isso o impedirá de formar um novo relacionamento com correntes e interações subjacentes semelhantes. Isso também significa que a decisão de romper a conexão foi tomada por causa do crescimento e não como resultado de rancor, medo ou fuga.

INTERAÇÕES DESTRUTIVAS

Absolutamente não é fácil explorar a interação subjacente e os vários efeitos de um relacionamento no qual as dificuldades de ambas as pessoas são reveladas e aceitas. Mas nada pode ser mais bonito e recompensador. Qualquer um que chegue ao estado de iluminação onde isso é possível não temerá mais qualquer tipo de interação. As dificuldades e os medos surgem na exata medida em que ainda se projeta sobre os outros os próprios problemas de
relacionamento e ainda considera outros responsáveis por qualquer coisa que vai contar a sua vontade. Isso pode assumir muitas formas sutis. Alguém pode concentrar-se constantemente nas faltas alheias porque à primeira vista tal concentração parece-lhe justificada. Pode-se super enfatizar sutilmente um lado de uma interação, ou excluir outro. Tais distorções indicam projeção e negação da auto-responsabilidade no relacionamento. Essa negação alimenta
a dependência da perfeição do outro parceiro, a qual, por sua vez, cria medo e hostilidade por sentir-se decepcionado quando o outro não corresponde ao padrão perfeito.
Meus queridos amigos, não importa o que a outra pessoa faça de errado, se você está perturbado deve haver algo em você que você não está percebendo. Quando eu digo perturbado, quero dizê-lo em um sentido específico. Não falo de raiva pura e simples que se expressa sem culpa e não deixa nenhum traço de confusão e dor interiores. Refiro-me àquele tipo de perturbação que resulta do conflito e gera mais conflito. Uma tendência muito comum entre as pessoas é dizer: "Você está me fazendo isto." O jogo de por a culpa nos outros é tão difundido que você nem sequer o nota; um ser humano culpa o outro, um país culpa o outro, um grupo culpa o outro. Esse é um processo constante no presente nível de desenvolvimento da humanidade. É na realidade um dos processos mais danosos e ilusórios que se possa imaginar.
As pessoas têm prazer em fazer isso, embora a dor que se segue e os conflitos insolúveis que daí resultam são infinitamente desproporcionais ao prazer insignificante e momentâneo. Aqueles que praticam esse jogo ferem-se realmente a si mesmos e aos outros e eu recomendo vigorosamente que vocês comecem a tomar consciência do seu envolvimento cego nesse jogo de troca de culpas. Mas, e a "vítima" ? Como deve essa pessoa fazer frente a isso? Como vítima, o seu primeiro problema é que você nem ao menos está consciente do que está acontecendo. Na maior parte do tempo a vitimização ocorre de uma maneira sutil, emocional e desarticulada. A culpa silenciosa e oculta está sendo lançada sem que se diga uma palavra. Ela é expressa indiretamente de muitas maneiras. Então nenhuma das pessoas realmente conhece os intrincados níveis de ação, reação e interação até que os fios se tornem tão embaraçados que parece impossível separá-los. Muitos relacionamentos tropeçam devido a tal interação inconsciente. O ato de lançar culpa espalha veneno, medo e pelo menos tanta culpa quanto se tenta projetar. Os recipientes dessa culpa e recriminação podem reagir de muitas formas diferentes, de acordo com os seus próprios problemas e conflitos não resolvidos. Enquanto a reação é cega e a projeção de culpainconsciente, a contra-reação será também neurótica e destrutiva. Apenas a percepção consciente pode impedir isso. Somente então pode-se ser capaz de recusar uma carga que se põe sobre os ombros. Só então pode-se articulá-la e localizá-la.

COMO BUSCAR A REALIZAÇÃO E O PRAZER

Em um relacionamento que está preste a desabrochar, deve-se estar atento para essa armadilha, que é ainda mais difícil de detectar porque a projeção de culpa é tão difundida. Os recipientes também devem procurar por ela em si mesmos bem como no outro. E eu não falo aqui de uma confrontação direta acerca de algo que o outro fez de errado. Estou a falar da recriminação sutil pela infelicidade pessoal. É isso que tem que ser combatido.
A única maneira de se evitar tornar-se uma vítima de recriminação e projeção de culpa é evitando fazer o mesmo. Na medida em que alguém se permite essa atitude sutilmente negativa - e isso pode ser feito de maneira diferente daquela que o outro faz - ele se tornará inconsciente do fato de que o fazem a ele e, assim, será vitimado por ela. A simples percepção fará toda a
diferença - mesmo que não se expresse verbalmente e não se confronte a outra pessoa. Apenas na medida em que se explora e aceita de forma não defensiva as próprias reações problemáticas e distorções do indivíduo, suas negatividades e destrutividades é que se pode afastar a projeção da culpa alheia. Só então a pessoa não será arrastada para um labirinto de falsidade e confusão no qual a incerteza, a defesa e a fraqueza podem fazê-la recuar ou tornar-se super-agressiva. Apenas então não mais se confundirá auto-afirmação com hostilidade, ou acordo flexível com submissão mórbida. Esses são os aspectos que determinam a capacidade de fazer frente aos relacionamentos. A interação humana tornar-se-á cada vez mais íntima, preenchedora e bela na medida em que essas novas atitudes forem mais profundamente compreendidas e vividas.
Como você pode afirmar seus direitos e buscar realizações e prazer no universo? Como você pode amar sem medo, a menos que você aborde o relacionamento com outros da maneira que delineei acima? A não ser que se aprenda a fazer isso para purificar-se, sempre haverá uma ameaça quando se trata de intimidade: que um ou ambos vão recorrer ao uso do látego da
recriminação mútua. O amor, a partilha e a proximidade profunda e satisfatória com outros poderia ser um poder puramente positivo sem qualquer ameaça se essas ciladas fossem vistas, descobertas e dissolvidas. É da maior importância que vocês procurem por elas dentro de si mesmos, meus amigos.
O relacionamento entre homem e mulher é o mais desafiador, belo, espiritualmente importante e produtor de crescimento dentre todos. O poder que une duas pessoas no amor e na atração e o prazer envolvido são um pequeno aspecto de estar em realidade cósmica. É como se cada entidade criada soubesse inconscientemente da bem-aventurança desse estado e buscasse realizá-lo da maneira mais poderosa aberta para a humanidade: no amor e na sexualidade entre homem e mulher. O poder que os une é a energia espiritual mais pura, levando a uma idéia do mais puro estado espiritual.
No entanto, quando um homem e uma mulher ficam juntos em um relacionamento mais Duradouro e dedicado, manter um prazer ainda crescente depende inteiramente de como os dois se relacionam um com o outro. Estão eles conscientes da relação direta entre prazer duradouro e crescimento interior?
Eles usam as inevitáveis dificuldades no relacionamento como medidas para as suas próprias dificuldades internas? Comunicam-se eles da maneira mais profunda, verdadeira e auto-reveladora, compartilhando seus problemas interiores, ajudando-se um ao outro? As respostas a essas questões vão determinar se o relacionamento tropeça, dissolve-se, estagna - ou floresce.

Quando você olha o mundo à sua volta, sem dúvida vê que muito poucos seres humanos crescem e revelam-se dessa maneira aberta. Da mesma forma poucos percebem que crescer juntos e através um do outro determina a solidez dos sentimentos, do prazer, do amor e respeito duradouros. Não é de surpreender, portanto, que relacionamentos de longa duração sejam quase que invariavelmente mais ou menos mortos em termos de sentimento.
As dificuldades que surgem em um relacionamento são sempre sinais de algo a que não se prestou atenção. Elas são uma clara mensagem para aqueles que podem ouvir. Quanto antes se der atenção a ela, mais energia espiritual será liberada de forma que o estado de bem-aventurança pode expandir-se junto com o ser interior de ambos os parceiros. Existe um mecanismo em um relacionamento entre um homem e uma mulher que pode ser comparado a um instrumento finamente calibrado que mostra os mais delicados e sutis aspectos do relacionamento e do estado individual das duas pessoas envolvidas. Isso não é suficientemente reconhecido nem pelas pessoas mais conscientes e sofisticadas que de outro modo são familiares com a verdade psicológica e espiritual. Todo dia e toda hora o estado e os sentimentos interiores de uma pessoa são um testemunho do seu estado de crescimento. Na medida em que eles são tomados em consideração, a interação, os sentimentos a liberdade de fluxo dentro de cada um e na direção um do outro irão desabrochar.
O relacionamento perfeitamente maduro e espiritualmente válido deve ser sempre Profundamente conectado com o crescimento pessoal. No momento em que um relacionamento é experimentado como irrelevante para o crescimento interno, deixado à sua própria sorte, por assim dizer, ele tropeçará. Somente quando ambos crescem até o seu máximo potencial inerente é que o relacionamento pode se tornar mais e mais dinâmico e vivo. Esse trabalho tem que ser feito individual e mutuamente. Quando o relacionamento é abordado dessa maneira, ele será construído sobre a rocha e não sobre a areia. Nenhum medo jamais achará espaço sob tais circunstâncias. Os sentimentos vão se expandir e crescerá a segurança a respeito do self e um do outro. Em qualquer momento específico cada parceiro servirá de espelho para o estado
interno do outro e portanto do relacionamento.
Sempre que há fricção ou amortecimento, isso é uma indicação de que alguma coisa está emperrada. Alguma interação entre as duas pessoas permanece obscura e precisa ser considerada. Se isso for entendido e tratado abertamente, o crescimento prosseguirá em velocidade máxima e, na dimensão do sentimento, a felicidade, o prazer, a experiência profunda e o êxtase torna-se-ão para sempre mais profundos e mais bonitos, e a vida vai ganhar
mais significado.
Ao contrário, o medo da intimidade implica rigidez e a negação da parte de responsabilidade que se tem nas dificuldades do relacionamento. Qualquer um que ignore esses princípios ou que apenas os reconheça verbalmente não está emocionalmente preparado para assumir a responsabilidade por seu sofrimento interno - seja dentro de um relacionamento ou na sua ausência.
Assim vocês vêem, meus amigos, que é da maior importância reconhecer que o prazer e a beleza, que são realidades espirituais eternas, estão disponíveis para todos aqueles que buscam a chave para os problemas de interação humana, bem como para a solidão, dentro dos seus próprios corações. O verdadeiro crescimento é uma realidade espiritual tanto quanto a realização profunda, vitalidade vibrante e relacionamento prazeroso, bem-aventurado. Quando
você está interiormente pronto para se relacionar com outro ser humano de tal forma, você encontra o parceiro apropriado, com o qual essa maneira de compartilhar é possível. Você não terá mais medo, não será mais acossado por medos conscientes ou inconscientes quando usar essa importantíssima chave. Você nunca poderá sentir-se indefeso ou vitimado quando tiver ocorrido a transição significativa em sua vida e você não mais considerar outros responsáveis pelo que você experimenta ou deixa de experimentar. Assim o crescimento e a vida realizada e bela tornam-se uma e a mesma coisa.
Que vocês possam carregar consigo esse novo material e uma energia Interior despertada pela sua boa vontade. Possam essas palavras ser o início de uma nova forma interior de encarar a vida, para finalmente decidir: "Eu quero arriscar meus bons sentimentos. Eu quero buscar a causa em mim e não na outra pessoa, para que eu possa me tornar livre para amar." Esse tipo de meditação irá realmente dar frutos . Se você levar um germe, uma partícula, dessa palestra, ela terá sido realmente frutífera. Sejam abençoados, todos vocês, meus queridos amigos, para que se tornem os deuses que potencialmente são.

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