31 de janeiro de 2009

Trechos de Livros


"Espaço, Tempo e Além"
Bob Tobem e Alan Wolf

página 171

A visão que nós temos de nós mesmos está mudando. Na concepção newtoniana clássica, os seres humanos não ocupavam lugar especial no Universo. Eram simplesmente observadores. O que acontecesse fora deles só poderia ser alterado por meio de forças externas e de suas consequências. Dados a localização e o momentum exatos de todos os objetos do universo e de todas as forças que atuam sobre esses objetos, tudo o que viesse a ocorrer no futuro seria completamente previsível. Isso não deixava espaço para o livre-arbítrio. Num Universo como esse tudo era predeterminado. Não apenas o futuro, mas também o passado era predeterminado. Em outras palavras, seria possível conhecer com absoluta certeza tudo o que passara antes bem como tudo o que viria depois.
Na visão quântica do século XX, particularmente antes de 1933, descobrimos que não nos era possível conhecer, ao mesmo tempo, posição e o momentum de cada um dos objetos do Universo. Não era, entretanto, a ignorância que nos limitava, mas sim uma nova descoberta da física, a descoberta da natureza quântica de todas as coisas.
Dizia que, na melhor da hipóteses, tudo o que podíamos esperar descobrir era a localização e o momentum prováveis de cada objeto. Essa descoberta mostrou-nos também que havia uma conexão entre a localização provável e o momentum prováveis de cada objeto. Essa conexão baseava-se numa descoberta denominada o princípio da incerteza. Mostrava que qualquer experimento que determinasse exatamente a localização de um objeto deixaria o experimentador completamente em dúvida quanto a localização futura desse objeto. Essa dúvida tinha origem na completa perda de informações referentes ao momentum do objeto, que ocorrera quando a posição do objeto fora medida. Dando maior flexibilidade à precisão da medida, de maneira que a posição do objeto ficasse "borrada", poderia ser prevista. Dessa forma, se desistíssimos de obter informações acerca da localização, poderíamos conseguir algumas outras informações sobre a localização seguinte.
Em outras palavras, seríamos capazes de aprender um pouco sobre o momentum do objeto em questão. Pensava-se que essa imagem borrada dos objetos fosse mais um simples aborrecimento que uma restrição fundamental imposta sobre a matéria. Novamente, o observador humano não desempenhava nenhum papel especial. A imagem do mundo era, simplesmente, só um pouco mais complicada que a imagem newtoniana.
A partir de 1935, nossas concepções foram mudando e se aproximando da idéia segundo a qual o observador, de Algum modo, entra na imagem. Não se vê, no entanto, de modo inteiramente claro como isso acontece. Uma das maneiras de se incluir o observador encontra-se num desenvolvimento da mecânica quântica, feito por Richard Feynman, baseado na sua concepção "integral dos caminhos". A visão dele leva em consideração todos os caminhos possíveis que um objeto poderia seguir para atingir, no futuro, uma dada localização. A incerteza decorre "naturalmente" dessa concepção porque não poderíamos dizer com certeza que o caminho do objeto efetivamente seguiria. Como numa história de detetives, onde todos os personagens são suspeitos, todos os caminhos desempenham um papel no ato final de observação. Embora todos os caminhos sejam igualmente "suspeitos", alguns deles conspiram de uma maneira particularmente "incriminatória". Esse caminhos "destacam-se" dos restantes, pelo fato de se aglomerarem ao redor de um determinado caminho, chamado de "caminho de mínima ação"
Que há de tão especial nesse "caminho de mínima ação"? é assim tão especial, justamente porque é muito comum. Qualquer objeto que siga o caminho de mínima ação parece ajustar-se à imagem newtoniana, clássica como um objeto "deveria" comportar-se. Em outras palavras, um objeto num caminho de mínima ação tem uma história muito normal. Por exemplo, podemos descobrir onde ele estava no passado e predizer para onde irá no futuro. Esse objeto é um "bom" cumpridor da lei. Ele segue a regra da causa e do efeito.
O que acontece se há mais de um caminho de mínima ação?
( Vários caminhos podem ser mínimos se todos forem iguais). O objeto, então, comporta-se como se seguisse todos os caminhos de mínima ação. De fato, se todos os caminhos possíveis são de mínima ação, o objeto deixa de se mover de um lugar para o outro como se fosse uma onda, propagando-se pelo espaço até o momento da verdade, quando é observado. Todos os caminhos, de mínima ação ou não, contribuem para a propagação. No instante da observação, a propagação cessa.
É nesse instante que, ao meu ver, o observador entra em cena. Cada minúsculo " ato de observação" reduz a polifonia dos caminhos a um só ponto de um dos caminhos. Como se num passe de mágica, esse ponto torna-se um ponto de mínima ação. A partir dele, são possíveis novos caminhos de mínima ação vindos do passado e indo para o futuro. Tudo se passa como se a memória do universo recebesse um leve solavanco, que a fizesse esquecer-se da maneira como ela trouxe esse objeto até esse determinado ponto do espaço e do tempo. Uma vez que a observação do objeto constitui agora um "fato", ela torna-se um ponto de vista mais confiável para predizer o futuro. Assim, a partir do fato observado, é possível um novo caminho de mínima ação rumo ao futuro.
Se nós estivermos "dependurados" no passado, escolheremos ver o futuro como víamos o passado. Se alternarmos nossa percepção do agora, nossa visão alterada mudará o futuro! A questão é: Até onde podemos ir? Até que ponto podemos mudar o futuro alterando nossa percepção do agora? Ninguém sabe a resposta. Creio que a idéia de alterar a realidade "lá fora" em uma decorrência de uma mudança do observador "aqui dentro" abre ás futuras pesquisas uma expectativa extremamente instigante e provocadora. Talvez as pesquisas sobre os estados alterados de consciência possam mostrar-nos os limites dessa expectativa.