4 de junho de 2017

Informe Consultório
Série Educação e Saberes para uma Nova Era



O ser humano funcional
por Débora Evangelista

A evolução baseada apenas nas circunstâncias externas e no contato com o mundo, com as modas e tendências coletivas tende a deixar o ser interno desprovido de recursos valiosos para que possa explorar com criatividade e espontaneidade o que a vida reserva como aprendizagem individual. O aparato tecnológico e suas facilidades promoveu a perda do contato com o essencial para o ser humano tornar-se funcional, tornando-se assim um refém de uma aparente evolução coletiva. Aqui podemos falar em uma grave confusão de níveis ou dimensões da existência onde a tecnologia é apenas parte de uma delas. A tecnologia facilita a projeção de si mesmo em uma realidade virtual onde o mundo das ideias e informações não tratadas invadem o sistema funcional e interpretativo criando um forte desequilíbrio no sistema corpo-mente-emoção. Isto ocorre principalmente entre crianças e adolescentes que são criadas na virtualidade e abusam no tempo deste contato. Algumas delas desconhecem como era o mundo antes destas facilidades. A virtualidade possui e concede a todos o poder do rápido, do fácil, do impessoal e por consequência também o poder do não realizável na dimensão do concreto e do relacional. Depois de um tempo navegando com foco excessivo no mundo externo, seja concreto ou virtual, pode surgir uma condição de vazio existencial que contribui para que o acesso à tecnologia se torne mais constante, quase como um vício que consiste em checar o tempo todo as mensagens, o ter prazer em vencer jogos virtuais, ou adquirir novos produtos. Muito daquilo que na atualidade se observa em jovens como sintomas de depressão, mania ou vício podem ser fortes indicadores da necessidade de revisar valores, posturas e ações para que o equilíbrio seja retomado. A criança e o jovem devem ter no adulto este ponto de equilíbrio e orientação sobre limites e possibilidades. Isto não significa que a tecnologia seja um vilão, mas que os pressupostos que norteiam a vida, as relações e também o uso da tecnologia e afins precisam ser revistos. Não se trata de fazer uma inquisição e dizimar o novo, nem tentar ensinar como educar melhor ou formar uma sociedade perfeita. Cabe apenas uma reflexão sobre como evitar a sedução do fácil, do pronto, do infalível que tem sido alicerçado como necessário, científico, moderno, comprovado, aprovado e o único caminho a ser seguido para sentir aprovação e pertencimento. O mundo funciona como polaridade, onde o atrito entre duas forças cria todas as formas existentes. Todas estas formas são sustentadas por uma energia de unidade que é a força que equilibra as polaridades no processo criativo chamado vida. É importante lembrar que a geração que antecede uma próxima, tem como missão entregar a sua experiência facilitando os processos de aprendizagem sobre a vida. Porém tudo aquilo que ficou reprimido, não trabalhado ou pouco esclarecido será também repassado e como um paradigma a ser revisado, surgem novas experiências e questionamentos pela geração herdeira. Na busca de aprovação científica, social, partidária, financeira, ou seja lá, qual for a necessidade de amor, afeto e conexão, todo ser humano busca na vida, as suas possibilidades e potencialidades que o tornam merecedor. Antes de ser funcional, o ser humano é relacional, devendo tornar-se íntegro, inteiro por meio do uso de sabedoria, discernimento e reconhecimento. A tecnologia facilita, mas não garante por si mesma algo que somente poderá ser realizado pelo próprio ser humano. Antes de conhecer todas as coisas dentro de seus perfeitos e tecnológicos quadradinhos há que se conhecer a si mesmo. O círculo na quadratura vai subverter a ordem de forma a criar novas e incríveis possibilidades. Aqui, o desenho do processo de individuação pode ter sido melhorado com o avanço material, mas continua sendo essencialmente o mesmo, uma jornada interna de muitas descobertas e potencialidades a serem compartilhadas com todos por meio de conexões saudáveis. Una-se ao Todo por meio de todos os recursos disponíveis mas lembre-se de que a vida é dinâmica e surpreendente, há muito a ser descoberto dentro de você mesmo! Lindo dia!


www.deboraevangelista.com.br