23 de dezembro de 2008


Impermanência
por: Débora Roberta Evangelista

Nossa humanidade tem uma forte tendência para eternizar, perpetuar e concretizar os bons momentos. Por isso mesmo, dificilmente aceitamos positivamente as mudanças pois com elas temos a sensação de perder o controle.
Sem perceber, trabalhamos avidamente para manter determinadas situações exatamente da forma como estão, esquecendo-nos que a vida e a natureza possuem um ritmo próprio e que fluímos através destes ciclos de criação e renovação.
Somos treinados para construir e criar conforto e, nos períodos em que isso não nos é possível sofremos muito, dificultando ainda mais os processos que deveriam ser encarados com naturalidade.
A impermanência é a única certeza que possuímos nesta vida e devemos aceitar os altos e baixos como uma grande aprendizagem. A partir desta sabedoria poderemos encontrar o caminho do equilíbrio não excedendo os movimentos para além do que seja necessário no aqui e agora.
Focar a atenção no presente é o meio mais eficaz de lidar com a ansiedade e o medo. Estas duas energias esgotam a vitalidade e paralisam os movimentos criativos, perpetuando ciclos repetitivos, acentuando tendências cármicas.
A confiança no processo de vida reside sempre no momento presente. O foco no passado, através da memória traz a culpa e o arrependimento. O foco no futuro traz o medo e ansiedade gerando uma inabilidade de lidar com a situação presente dentro das possibilidades reais em que ela se apresenta.
Todas as soluções estão no presente e a nossa memória deveria servir apenas para designar a localização temporal e espacial de nossa história.

No momento, no aqui e agora temos o campo das infinitas possibilidades para qualificar e transformar as condições de nossa vida, mas é necessária uma abertura, uma disponibilidade, uma concordância com o processo.
O Universo nos envia as energias, as motivações, os encontros, as sincronicidades. Nós humanos respondemos a essas sincronicidades de maneira positiva ou negativa, dependendo de nosso nível de consciência e auto observação. Quando estamos muito apegados a nossas idéias arraigadas, vetamos as sincronicidades, passamos a nos considerar únicos autores de nossa história.
Aceitar a impermanência onde os movimentos se interpõem e geram outros diversos é o início de um processo libertador. Aqui não se trata de ganhar ou perder - paradigma corrente na patologia da ambição- mas trata-se de viver bem e colaborar habilmente com o processo evolutivo.
Quando aceitamos os ritmos e nos harmonizamos - tal qual a natureza em seus ciclos intermináveis - ocorre um grande sentimento de felicidade e senso de pertencimento.

O sentimento de missão cumprida nos presenteia com a certeza da recompensa na justa medida de nossos esforços.